terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sem Hora


Um dia em um encontro de amigos me espantei com a presença de uma idosa no meio do grupo. A tratei bem, pois manda a educação tratar melhor os mais velhos e porque não duvidei que fosse uma boa pessoa por estar junto de meus amigos. E era mesmo uma boa pessoa, aliás, a pessoa mais linda que já encontrei em minha vida. Algum tempo depois tive a oportunidade de encontrar essa senhora novamente. Ela estava tão linda... Então entendi o porquê não havia a esquecido. Nesse segundo encontro eu pude entender como meus olhos a enxergaram desde a primeira vez. E dessa vez eu tive a liberdade de dizer, sem faltar com respeito o quanto ela era linda.
Eu não sabia que iria encontrar essa senhora novamente, apesar do coração gritar: “tudo que acontece uma vez, pode nunca mais acontecer. Mas caso aconteça a segunda, certamente acontecerá a terceira.” E a mente responder: “ai, quem me dera.”
Eu mal sabia que estava apaixonada... Mas como todos os casos de amor, tudo parecia premeditado, coincidência e tramado pelo destino. Eu encontrei novamente a linda senhora, e daí por diante era cada dia mais freqüentes os nossos encontros. Cada palavra que ela me contava me causava um deslumbramento tamanho. Toda cautela era pouca quando me referia a ela. Tinha medo de soar infantil, ou de poucos valores.
Mas tudo que a linda senhora me mostrava eram as coisas rodeadas de beleza, me mostrava a força da natureza, a natureza do homem também. Me mostrava que eu sabia sim das coisas da vida, que os valores estão impressos desde sempre em nosso amor. Ela me contava que também me amava, e que me amava principalmente porque eu enxergava os seus defeitos. Onde já se viu alguém amar por isso? Ela contava que eu a desarmava, mas na verdade ela se sentia segura em estar com alguém que a amava por completo, nos defeitos, nos acertos, nas rabujentisses de velhinha e nas belezuras de mulher.
Nós nos amamos e nos completamos por muito tempo. Fizemos planos pra toda vida, sonhamos para além da morte.
Algumas vezes nós discordávamos, hora porque a paciência de uma idosa às vezes não tem bom humor. Hora porque eu lhe contava as novidades do mundo, dos relacionamentos dos homens, e ela não acreditava que um coração pudesse gerar gêmeos.
Mas como minha avó, minha mãe, minha linda senhora e todas as experiências do mundo já diziam, o que não se entende na teoria, se aprende na prática. A linda senhora teve que aprender a amar mais de um amor, e eu tive que aprender a amar sem prender. Por mim eu teria aprendido a amar sem prender, sem perder. Mas a perdi. E aprendi.
Não foi fácil, ela continuava a me olhar de longe, cuidava de mim que eu nem sabia. Na verdade eu nem entendia nem aceitava. Não era justo. Dessa vez não tinha sido eu quem tinha colocado ninguém no mundo. Eu fui apresentada ao mundo, e de repente me roubaram o chão.
Perambulei sem rumo, não sabia desmentir a noite do dia. Não sabia se era choro ou se chovia. Eu não sabia entender...
Mas a vida foi andando, e a dor só foi passando quando eu não quis mais saber. Eu não tinha mais pra onde ir, no tempo que fiquei cuidando de minha velhinha, o mundo deixou de existir.
Reencontrei os velhos amigos, cheguei em casa e a minha mãe já estava velha também, os meus livros envelhecidos na estante... Então entendi naquele instante o que ela queria dizer.
Daí pra frente, corri atrás de tudo esquecido, arrumei meu quarto, meu meio e meu mundo. Só não encontro mais com a linda senhora.
Mas o meu amor é de casado, amor de pra sempre, amor sem hora...

2 comentários:

  1. O que seria de mim ou de qualquer ser existente sem pessoas como você...que fazem algo assim:
    Belo e perfeito!!!

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  2. to engasgado!
    O choro entalou... de verdade!
    LINDO.
    Quando eu digo que escrever é "tocar"
    só os poetas me entendem...
    Olhe, fiz minha relações viu? rs
    adorei...
    parabéns!

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