quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

sentirei fome
             sono
             frio
                    enquanto não ocupar o vazio

Flores

Amei Amanda
me perdi em Zélia
Me encontrei em Carolina
quando já estava velha
Rejuvenesci em Diana
Esqueci de orar por Lis
De todas as flores Dolores
foi a que eu jamais quis

Contradição

Me enchi de um amor vazio.
Me ocupei dos momentos parados.

Achado

A minha caneta esquecida
foi encontrada 
no baú envelhecido
do quarto
de minha amada

trava língua

Nos falaremos
Nos falharemos
Nos farfalharemos
Nos falamos
Nos falhamos
Nos fanfarralhamos
Nos falemos
Nos falimos
Nos fonemas
Fosflorescentes
Nos florimos

1° ressureição

Dormimos juntas ao claro da lua crescente e então nossos corpos se entrelaçaram como sempre fizeram desde a nossa primeira noite e como eu nunca acreditei ser capaz de descansar. 
completamente interferida, possuída e vice e versa por um outro corpo. 
O sono vinha chegando e o meu eu corpo ia resistindo. Como se quisesse ir. Mas também como se não quisesse ficar. Então vinha a sensação de queda livre, desmoronamento, desprender de mim ou algo do tipo. E quando eu quase ia e voltava, o outro corpo, o dela, me aparava. E roçava seu sexo em mim com seu ar um tanto frenético de viver.
Quando de fato apaguei, sonhei mil sonhos, com mil pessoas outras e não estava aqui nessa cama. Mas era confortável a sensação de poder ir onde eu quisesse que meu corpo estava aqui bem guardadinho. 
E, de manhã, quando acordei, nossos corpos estavam laçados de modo tão lancinante, que fiquei ali parada sem me mexer até que cada membro meu fosse adormecendo. Até eu voltar pro mundo dos sonhos. 
Sonhar perto dela, ou dentro dela, ou com ela é o que eu quero. 

1° morte

Foi como se eu me deparasse com todas as facetas dela de todas as épocas escondidas em suas gavetas. 
Ao mesmo tempo a sensação era de ter encontrado com suas caveiras e desencontrado do nosso amor.
Passei o dia entre planeios e insistência. 
Queria achar no sonho que colhi nas noites de fogueiras e festas o sentimento mais belo e sonido de liberdade.
Mas estar com ela não era mais fresco nem calorosamente acolhedor. Era como estar no nada. Novamente o nada. Como se o tudo tivesse sido arrancado de meu coração. Subtraído de mim. Me foi roubado os ares da paixão. A admiração disfarçou e saiu a francesa. O desejo pelo novo e pelo próximo segundo compartilhado também foi antes do final do baile. 
Ficamos eu e ela no salão dançando ao som do silêncio. Ela, em seus passos coreografados. Eu, desinteressada em aprender a dança, mesmo que ainda no salão.

A seta

A seta agita o feto
que cego cetro é infeliz
É fato: é incapaz, pois,
descasos descalços em passos curtos
de um futuro pensando em liberdade
passada, pesando. 
Era lá no pensamento
tudo de um jeito
onde se queria ser feitio
nem ir só indo
nem ir só
nem ficando
sorrindo
só rindo
dos olhos assassinos do engano
que quando encanto
quando encontro
é morte certa
aquela seta
que desperta
a dormência
a demência
a doênça
a despedida de mim