Causei-me cansaço de acender o isqueiro e apagar com a minha própria respiração. Descompassados tragos, tontos e aviltados.
A nebulosa cinzenta se afastou de minha coroa com o vento que amanheceu ligeiro trazendo ao peito novo ar.
Compreendi que abrir os poros é preencher-me de lama ou de chuva. De acordo com os acertos, que também podem ser os erros, que travamos ao lançar o corpo no mundo.
Hoje vi que até a maior árvore, do tronco mais robusto que meu olhar, através de suas cansadas janelas pode alcançar, se afeta ao mínimo vento.
Então balança e balança, pois, resistir é tentar, sem sucesso, romper o movimento do universo.
E este é o pacto: o vento toca, o corpo dança, sem resistência, com elegância.
O vento canta, transpassa todos os poros escancarados e permissivos. Vivos. Atômicos.
Abri espaço para que meu corpo tronco dançasse junto ao teu. Para lá, ou para cá, com o vento, no tempo. Quântico movimento.
E agora, inexplicado, depois de paralisado, vou dançar mesmo só.
Longe de sua matéria que cativou-me o gesto em direção ascendente.
Saber entrar e saber sair d'outro corpo no seu devir. Aprendizado silencioso.
Exercitar o amor, carinho e respeito.
Fechar as portas do buraco negro que desenfreia a proliferação de suspeitosas explicações de tudo o que eu não sei.
Ofereço o que tenho. Amor.
Aceito e exercito a recepção do que me oferece. Mesmo que seja hoje menos que ontem.
Hoje acordei mais leve e não vou mais chorar. Vou só dançar.