terça-feira, 19 de julho de 2016

Enterro

Tive raiva de você é bem verdade.
Tive raiva por ter interrompido o que continuaria sendo belo.
Tive tanta raiva que chorei desenfreados soluços empoeirada ladeira abaixo.
E também ladeira acima quando fui à montanha maldizer seu nome.
Gritei tão alto até que as estrelas, ainda de dia, puderam escutar-me.
E as que caíram na noite em que nos amamos, essas voltaram aos céus e
juraram nunca mais se derramar por nenhuma promessa de afeição. 
Por fim, enterrei seu nome junto com seus restos. 
Assim ninguém vai saber que ao invés de ir embora, eu te matei, amor.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Allegro do (des) esperar

Escrevo-te mais um poema enquanto te espero e não vens.
Quero acreditar que as pegadas do teu cavalo virão desabotoar o dia.
Que o teu canto pássaro virá prolongar as noites.
Mas sei que não vens.
Para não apenas esperar só; vou fumar um cigarro e esperar.
Mas sei que não vens.
Não virá.
Não virará. 
Bem, embora eu saiba, ainda te espero um tanto mais. 
No andamento que me põe, allegro ma non troppo, ainda me restam alguns giros do relógio.
Vou esperar o último movimento da sonata. 

Estio

A cavalo ele me levou nas estrelas
e no seu abraço me chamou de amor
Os beijos, aaaahhh, os beijos
esses me enroscaram feito unha de felino novo
sutil e afiado
As digitais dos seus lábios decifraram meus segredos
em silêncio e constância
Ele sussurrou em cada curva de mim
a música que eu jamais escutara
no tempo do futuro do pretérito
No passado