Não
vou mais abanar nenhuma palavra dessa casa. Culposas, congelam o tempo. São bocados de algo que insistente se desfaz. Perecível, fausto sepultado,
despetalado e desarmônico.
Não
faz sentido provar da loucura para vibrar entre os sãos. Serei indigente de mim
mesma. Ou serei como Clarisse: inigualável modelo de todos os esplendores e que
não deixa de suscitar suspiros a cada giro de estrelas.
Mas
as estrelas, essas andam em bando. As poucas que se descobrem só decaem pelo
espaço, viram restos de mar.
Me
admira mais a lua, que feito um espelho, é egoísta, poucos compreendem suas
horas enquanto ela jorra de prazer. Seu prazer é observar de longe as loucas,
lobas, uivantes. Ela se satisfaz sozinha.
E só,
ela se compreende, se faz clara. É claro que a loucura é o que há de mais
lúcido. Cristalino pensamento. É por isso que se cobre tanto tudo. Roupas,
panos, pelos. Extravasar, sair de si, tudo proibido. É arriscado não mais
voltar.
O
cheiro e a respiração são sobras, fragmentos de uma morta. Deteriorada por
hospedar a mim mesma. Me resta meu nome e alguns músculos mais resistentes. O
mais fraco arranquei e agora uso feito um pingente frente ao plexo. Ele cheira
mal e às vezes pulsa como se tivesse sobrevivido. Só lembranças. Sou toda
morte. Sou
toda morte e recomeço.
A ordem de sucessão às vezes se perde e tudo se torna
uma crença inválida sem comprovações. Posso ter primeiro morrido depois ficado
só. Posso ter enlouquecido e depois morrido. Posso ter me despedaçado e depois
ter sido egoísta. Pouco importa se agora é hora de colocar as coisas nos seus
lugares. Não influi se uma no lugar da outra. É só meu. E em seus devidos
lugares tudo se torna obsoleto.
O
que a essa altura é uma melancólica obsessão, saudoso desejo de mim, me
preenche. Generosa, deixo ir, me expando.