quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sua bunda


A sua cor amarelada com pintinhas marrons ao longo do corpo. Seus seios rosados e empinados como os de uma adolescente, com os biquinhos fátuos sedentos por mais uma sorvida com sabor de vermelho vivo. Gosto ainda muito do seu azul brilhante ao sol, mas me excita tanto, ao mesmo tempo em que me desconcerta, escovar os dentes lado a lado como quem brinca de ser um casal. Talvez ela já tenha vivido isso muitas vezes, embora eu duvide de seu gosto por coabitação. Mas nessas horas só passa em minha cabeça que vou tê-la em minha cama da penumbra da casa até o nascer do sol. E que às vezes, mesmo com o nascer do sol, vou poder me sucumbir em sua bunda macia e deleitável desde a minha cama até as pedras do rio mais escondido onde só a gente sabe o que acontece entre nós.

DMT

Era branca, azul, vermelha, verde e amarelo e todas as outras cores que se fundiam numa imagem da flor transando com o cachimbo de ouro. Ao fundo se repetia, ao mesmo tempo que sumia, o latido do cachorro da vizinha. Na mesma cama, estirado ao lado, estava o boy e seus gatos estilhaçados. Então sumi de mim e visitei o profundo da escuridão. Tinha ainda por fora e por dentro o som e o cheiro do que se espalhava em mim. Era gozo intenso e o ronco de uma gargalhada que me atravessava sem saber pra onde ir. Não tinha membros, não existia nada se é que o nada existe. Nadei no meu prazer. E quando as luzes de minhas pupilas se reacenderam, vinha mesmo de dentro o som do orgasmo. Reconheci e aceitei que não sei pra onde fui. Só sei que gozei. Que gozei. Que gozei. Ele, ao lado ainda tomado. Ela, entre minhas pernas, salpicada com o meu deleite. Todos seminus. Atravessados.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

À Deus

Causei-me cansaço de acender o isqueiro e apagar com a minha própria respiração. Descompassados tragos, tontos e aviltados. 
A nebulosa cinzenta se afastou de minha coroa com o vento que amanheceu ligeiro trazendo ao peito novo ar. 
Compreendi que abrir os poros é preencher-me de lama ou de chuva. De acordo com os acertos, que também podem ser os erros, que travamos ao lançar o corpo no mundo. 
Hoje vi que até a maior árvore, do tronco mais robusto que meu olhar, através de suas cansadas janelas pode alcançar, se afeta ao mínimo vento. Então balança e balança, pois, resistir é tentar, sem sucesso, romper o movimento do universo. 
E este é o pacto: o vento toca, o corpo dança, sem resistência, com elegância. 
O vento canta, transpassa todos os poros escancarados e permissivos. Vivos. Atômicos. 
Abri espaço para que meu corpo tronco dançasse junto ao teu. Para lá, ou para cá, com o vento, no tempo. Quântico movimento. 
E agora, inexplicado, depois de paralisado, vou dançar mesmo só. Longe de sua matéria que cativou-me o gesto em direção ascendente. 
Saber entrar e saber sair d'outro corpo no seu devir. Aprendizado silencioso. 
Exercitar o amor, carinho e respeito. Fechar as portas do buraco negro que desenfreia a proliferação de suspeitosas explicações de tudo o que eu não sei. 
Ofereço o que tenho. Amor. 
Aceito e exercito a recepção do que me oferece. Mesmo que seja hoje menos que ontem. 
Hoje acordei mais leve e não vou mais chorar. Vou só dançar.