terça-feira, 1 de novembro de 2016

À Deus

Causei-me cansaço de acender o isqueiro e apagar com a minha própria respiração. Descompassados tragos, tontos e aviltados. 
A nebulosa cinzenta se afastou de minha coroa com o vento que amanheceu ligeiro trazendo ao peito novo ar. 
Compreendi que abrir os poros é preencher-me de lama ou de chuva. De acordo com os acertos, que também podem ser os erros, que travamos ao lançar o corpo no mundo. 
Hoje vi que até a maior árvore, do tronco mais robusto que meu olhar, através de suas cansadas janelas pode alcançar, se afeta ao mínimo vento. Então balança e balança, pois, resistir é tentar, sem sucesso, romper o movimento do universo. 
E este é o pacto: o vento toca, o corpo dança, sem resistência, com elegância. 
O vento canta, transpassa todos os poros escancarados e permissivos. Vivos. Atômicos. 
Abri espaço para que meu corpo tronco dançasse junto ao teu. Para lá, ou para cá, com o vento, no tempo. Quântico movimento. 
E agora, inexplicado, depois de paralisado, vou dançar mesmo só. Longe de sua matéria que cativou-me o gesto em direção ascendente. 
Saber entrar e saber sair d'outro corpo no seu devir. Aprendizado silencioso. 
Exercitar o amor, carinho e respeito. Fechar as portas do buraco negro que desenfreia a proliferação de suspeitosas explicações de tudo o que eu não sei. 
Ofereço o que tenho. Amor. 
Aceito e exercito a recepção do que me oferece. Mesmo que seja hoje menos que ontem. 
Hoje acordei mais leve e não vou mais chorar. Vou só dançar.

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