segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Calor

Então o vento parou de soprar e eu quase sufocada arranquei toda a roupa e desatinei a abrir a casa em todas as portas e janelas e vidros estáticos e o tempo parado e o som inaudível. 
O ronco dos meus pulmões em busca de ar era como um trovão rasgando a terra. Som e luz sem som e sem sombra. 
Um zunido agudo e internos tímpanos tocavam incessantes como uma orquestra de metais. Ou de madeiras. Percursivamente surdos e amordaçados no paradeiro desventilado.
A casa flutuante pairava no abismo de lugar nenhum. Os rios corriam ao contrário até serem novamente chupados pelas suas nascentes. 
Decrescentemente o mundo acabou. 


Constatação:

te quero em verso e foda.

Fantasia

Só,
pensei te ouvir chegar no portão de meus pensamentos, enquanto reorganizava a casa de meus botões, colocando no lugar alguns móveis imóveis de meus planeios invícidos. 
Então, articulei a frase que simularia a surpresa de levar um susto e te esperei chegar à porta.
No nosso diálogo por mim monologado, eu lhe diria o quanto é pouco gozoso originar uma relação de habituação, ao tempo que, você me diria que veio porque não resistiu ao vazio da cama sem o meu calor. 
Daí, enquanto eu achava romântico, audacioso e alastroso, me dei conta que estava a fantasiar você em mim.
Me dei conta que sinto sua presença aqui e que além de até escutar sua voz, ainda posso sentir seu cheiro. E que amanhã, se o sol nascer, eu vou te beijar. 

Pati

Fui arrebatada, é só isso. 
Pelo cheiro de lenha do fogão nas manhãs. 
Pelo azul do céu aberto.
Pelos pingos de orvalho na folha.
Pela correnteza no rio da passagem. 
Pela neblina que encobre a visão espantando a 
pressa e abrandando o calor da pele.
Pela fogueira que acalenta o corpo e
faz cantar a alma. 
Pelo banho de cachoeira com o beija-flor.
Por tudo que em nós é flor, em flor ao sol.
Pelo se espalhar na pedra gelada pra ver
a dança das nuvens e o caminhar despretensioso da água.
Fui arrebatada pela mão que me ofereceu
solidez ao pular pedras e também pela mão
que alegrou meu ânimo na azul cozinha.
E ainda a que tocou o tambor e a que tocou meu coração.
E por todas elas, que juntas, empurraram o carro. 
Pelo carnaval que fizemos de tanta energia gerada ao final de tudo.
Pelo estar só. Só com vocês no melhor lugar do mundo. 

Dedico a Dica, Marce, Paulinha e Lola, com muito amor.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Lua cheia em áries

Dedicar um tempo mesmo que breve ao esquecimento ao fazer nada ao todo do dia parado no espaço mistério espero com pensamento em estado de virote de rolê pelo mundo que canta pra mim  amor da cabeça aos pés breve, leve, breve, leve, leve... em loops cíclicos e anacrônicos da parte de marte ou do mar que é no fim e no fundo parte de mim entregue ao dia que passou. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Sedução

No escuro em minha cama
paisagem então noturna
claro como as estrelas
e ereto sobre minhas curvas

Em movimento contínuo
não se contia em meus quadris
entrava fundo em meu corpo
e saía pra entrar de novo

Mas num momento preciso
de uma onda que transbordava
meu mar encharcava a areia
e você nele se afogava

Os olhos semicerrados
seu corpo se estremecia
e quando em si retornava
enfim era luz, era dia.